sábado, 13 de setembro de 2014

SSHHH!

About silence and politeness in the classic music hall


The dress code shows the pedigree of the audience
There's something common to all music cultures around the World: music is enjoyed by cheering, singing along, crying, dancing, taping your foot or shaking your head.

It's a natural human reaction of participation and a way to fully enjoy it.

It has been so since music is known, even in classical performances. Music concerts were often held in restaurants, where people talked and made noise, while listening (or sort of) to the music being played.

In 1781, Mozart wrote a letter to his father where he rejoiced about the screams of "Bravo" during his performance.

Young Mozart playing Clavichord in a concert

People would enter or leave the room at their discretion, talk, and show how moved they were in a free way.

Silence would obviously mean rejection and indifference.

In the the XIX century things began to change. A new way of listening came to place: listening with worshipful silence.

There's a lot to be said about this. 

At first it was a form of class discrimination. Less "educated" persons wouldn't be able to behave like that. They didn't have "class".

What class, exactly? Usually, the aristocrats loved to be seen at concert halls, but couldn't care less about the music being played, so they sat in the boxes, talking. Sometimes, in the upper boxes, prostitutes came along and did their jobs.

The ambient in a concert box in the XIX century

So, it was more a middle-class thing. A new bourgeois elite was rising, helped by the Victorian winds.
Those people had class!

They mastered the art of listening in absolute silence, so that the purity of the performance could be heard.

The massive explosion and rapture at the end of a good performance is mostly explained by the effort  of the audience to suppress their most basic human instincts.

Some orchestras, like the New York Philharmonic in 1957, tried to educate the audiences in what they called "musical good manners". It was a tough job!

Today, in some concert halls, people are almost afraid of breathing. They have a dress code that shows their pedigree. They cough between the movements, to let go some pressure. They restrain from giving an applause at the end, until the experts on the piece being played show it's time to do it. There is also a body language mastered by most conductors and performers that says: " Yes, I finished, you may applaud".

Valery Gergiev, one of today's finest conductors
I witnessed, in 1976, in a concert organized by the Portuguese Communist Party, how a completely uneducated workers' audience received a brilliant Polish lady playing Chopin piano Etudes op.10. They cheered along, giving noisy clapping of applause on the most exuberant parts. The pianist was very disturbed but the audience was loving it. They didn't have manners, of course. The whole scene was natural and pure, in my opinion.

The typical rock concert audience. Imagine if they all were still and silent
Today, in some halls, like the royal Albert Hall in London or the Carnegie Hall in NYC, young music lovers brought a much more relaxed atitude towards the modern classical concert. I hope that the future will confirm that.

Ref: David Hendy "A Human History of Sound & Listening" pages 232-241

CHIIIUUUU!

Acerca do silêncio e das boas maneiras na sala de concertos de música clássica


O rigor do vestuário mostra o pedigree do púlico

Há alguma coisa comum a todas as culturas musicais do Mundo: a música é apreciada aplaudindo, cantando, chorando, gritando, dançando, batendo o pé ou, apenas, abanando a cabeça.

É a reação natural de participação e o caminho para a apreciarmos na totalidade.

Isto tem sido assim, desde que a música é conhecida, mesmo nas actuações de música clássica. Os concertos de música aconteciam, muitas vezes, nos restaurantes, onde as pessoas falavam e faziam ruído, enquanto escutavam (ou qualquer coisa parecida) a música que estava a ser tocada.

Em 1781, Mozart escreveu uma carta ao seu pai, onde se regozijava pelos gritos de  "Bravo" durante a sua execução.

O jovem Mozart tocando clavicórdio num concerto

As pessoas entravam ou saíam da sala à sua vontade, falavam e demonstravam as suas emoções de uma forma livre.

O silêncio queria dizer rejeição e indiferença.

Mas no século XIX as coisas começaram a mudar. Uma nova foram de escutar apareceu: escutar com um silêncio sagrado.

Há muito a dizer acerca disto. 

Em primeiro lugar, foi uma forma de discriminação social. As pessoas menos "educadas" não conseguiam comportar-se desta maneira. Não tinham"classe".

Qual classe, exactamente? Normalmente, os nobres e aristocratas gostavam de ser vistos nas salas de concertos mas não ligavam nenhuma à música que estava sendo executada. Assim, ficavam nos camarotes, conversando. Algumas vezes, nos camarotes superiores, algumas prostitutas faziam o seu trabalho.

O ambiente típico num camarote no século XIX
Por isso, era muito mais uma coisa da classe média. Uma nova elite burguesa desabrochava, impelida pelos ventos Vitorianos.
Esta gente tinha classe!

Eles dominavam a arte de escutar em absoluta imobilidade e silêncio, de forma a que a pureza da execução fosse ouvida.

A explosão maciça e o arrebatamento no final de um bom espectáculo é mais fácil de explicar pelo esforço que o público faz em suprimir os mais básicos instintos humanos.

Algumas orquestras, como a New York Philharmonic, em 1857, tentaram educar o público para aquilo a que chamavam  "boas maneiras musicais". E era um trabalho difícil!

Hoje, nalgumas salas de concerto, as pessoas quase têm medo de respirar. Vestem a rigor, afirmando o seu pedigree. Tossem entre os andamentos, sobretudo para deixar sair alguma tensão. Evitam aplaudir logo no final, até que especialistas na peça que está a ser tocada o façam, dando sinal aos outros. Criou-se também uma linguagem corporal, dominada pela maioria dos maestros e solistas que quer dizer: " Sim, já acabei, podem aplaudir".

Valery Gergiev, um dos melhores maestros da actualidade
Assisti, em 1976, a um concerto organizado pelo Partido Comunista Português na 1ª Festa do "Avante!", em que um público totalmente composto por trabalhadores, recebeu uma brilhante pianista Polaca interpretando os Estudos de Chopin, op.10. Aplaudiam durante a peça, batendo palmas ruidosamente nas partes mais vistosas. A pianista estava bastante perturbada, mas o público estava a adorar. Não tinham maneiras, claro. Toda a cena foi natural e pura, na minha opinião.

Típica assistência de um concerto de rock. Imaginem se estivem todos quietos e calados.

Hoje, em salas como o Royal Albert Hall em Londres ou o Carnegie Hall em NYC, uma legião de jovens amantes de música trouxe uma forma muito mais descontraída de assistir a concertos clássicos. Espero que o futuro confirme esta tendência.

Ref: David Hendy "A Human History of Sound & Listening" pags 232-241






Sem comentários:

Enviar um comentário